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Arte e geometria no Renascimento

Giotto

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 Ninguém melhor do que Gombrich poderia descrever esta dicotomia, pelo que passamos a transcrever uma passagem (pág. 202) do seu magnífico livro The Story of Art. Gombrich compara frescos de Giotto na Capela da Arena, em Pádua, com uma iluminura do Evangelho de S. João: "O assunto é a Lamentação sobre Cristo morto, com a Virgem beijando o seu Filho pela última vez. Na iluminura de Bonmont, o artista não estava interessado em representar a cena como teria acon-tecido. Escolheu o tamanho das figuras de modo que ficassem bem distribuídas na página, e se tentamos imaginar o espaço entre as figuras do primeiro plano e S. João na retaguarda — com Cristo e a Virgem entre eles — vemos como estão apertados entre si e como o artista pouco se preocupou com a questão do espaço. [...]. O método de Giotto é comple-tamente diferente. A pintura, para ele, é mais do que um substituto da palavra escrita. Parece-nos que testemunhamos o próprio acontecimento como se se passasse num palco. Compare--se o gesto convencional da lamentação de S. João na iluminura com o movimento apaixonado de S. João quando se inclina para a frente na pintura de Giotto, com os braços estendidos. Se tentamos aqui imaginar a distância entre as figuras do primeiro plano e S. João percebemos imediatamente

Giotto. Lamentação sobre Cristo morto. Capela da Arena. Pádua

 que há ar e espaço entre elas e que podem todas mover-se. Estas figuras no primeiro plano mostram como a arte de Giotto era inovadora. Como afirma Peter Murray no seu recente texto na Enciclopédia Britânica, Giotto foi o autor de uma bem sucedida rotura com as práticas pictóricas da Europa medieval.

Bonmont.  Lamentação sobre Cristo morto. Iluminura 1250-1300

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